Este Centro Interpretativo acolhe um espaço museológico e pedagógico dedicado à Cerâmica. Ocupa o edifício da antiga Escola Primária da Raposeira, em S. João de Fontoura, depois de totalmente reabilitado. Contempla, uma sala de exposições permanente sobre a olaria negra, uma arte secular de tradição no concelho de Resende, atualmente em extinção e que se procura agora reavivar através de cursos profissionais de cerâmica cujos estágios profissionais decorrem neste centro. Este espaço encontra-se totalmente equipado com os mecanismos, utensílios, forno, etc, necessários ao sucesso dos trabalhos em cerâmica. Pode ser observado neste espaço, um espólio de olaria negra do mestre Joaquim Alvelos, o último dos oleiros de Fazamões, bem como alguns utensílios utilizados nesta arte.
Neste espaço desenvolvem-se também workshops criativos cuja temática é a cerâmica.
A olaria negra
O fabrico dos artefactos cerâmicos negros no concelho remontam a tempos medievais. Há no entanto relatos históricos do séc. XIX que nos indica que no lugar de Fazamões existiam cerca de 40 oleiros e mais 10 em regiões próximas. O barro, matéria-prima indispensável à confeção destes utensílios, era arrancado a golpes de enxada e picareta das encostas de Montemuro, era transportado no dorso de animais para a pequena oficina de Fazamões, onde ficava armazenado em “torrões”. Depositado no “pio“, era esmagado com o bater do “pico de picar”, crivado para libertar as impurezas e amassado com a junção de água, de forma a conseguir-se uma quantidade de matéria suficiente para dois dias de trabalho na roda. Transformado o barro até atingir a devida plasticidade para a moldagem, o processo seguinte passava pela “roda baixa“, uma variante das mais arcaicas rodas de oleiro.
Sentado com a roda entre os joelhos, Mestre Joaquim, o último dos oleiros, modelava e decorava as suas “criações”, de carácter utilitário e figurativo.
Estes artefactos eram posteriormente depositados num recanto da habitação,o sequeiro, onde permaneciam durante oito dias para eliminação da humidade, o que impedia que estalassem com o fogo. Após uma retracção do volume das peças durante a seca, preparava-se o processo seguinte: a cozedura na soenga.
A Soenga
A soenga, arcaico processo tecnológico de cozedura herdado das mais longínquas tradições neolíticas, consistia num fosso aberto no solo com cerca de 4 metros de diâmetro por 1 de profundidade, onde se “coziam” os artefactos.
Dispostas e sobrepostas neste espaço, as peças de barro eram envolvidas em “moinha” e lenha de pinheiro, à qual era ateado fogo. O barro amarelado, aquecendo lentamente, ía mudando de cor até ganhar manchas pretas, que caracterizavam e davam originalidade à olaria negra de Fazamões. No momento oportuno, Mestre Joaquim levantava as peças, tocando-as junto das asas. Se produzissem um “som metálico”, retirava-as do fogo. Aquelas que revelassem pequenos orifícios eram retocadas com pedaços de finíssimo barro, introduzido nas fendas através de um pequeno instrumento, o “scanabita”.
Procedia-se, então, à cozedura propriamente dita. Sobre o fundo quente da soenga, as peças eram cobertas por lenha e “brão”, ficando como respiradouro algumas fendas. Depois de ateado o fogo com caruma ou giesta seca, o interior da soenga transformava-se em fornalha. A cozedura terminava assim que o barro atingisse uma tonalidade branco-pálida.
Com uma enxada, o artesão cobria habilmente toda a soenga com terra negra, sem deixar qualquer abertura. Passadas cerca de três horas, eram descobertas as peças e aproveitado o calor para, se necessário, oleá-las ou impermeabilizá-las, processo efectuado através da permanente utilização diária. A cor negra destes utensílios cerâmicos eram conseguidos neste forno de terra que impedia que o oxigénio chegasse até aos utensílios e o fumo abundante lhes dava a cor negra.
Todo este processo, poderá ser apreciado no local com textos e imagens de arquivo, bem como um dvd realizado com o Mestre Joaquim Alvelos que documentam todo o processo.