Arqueologia
No âmbito arqueológico, o Museu oferece testemunhos da presença humana deixados no concelho e oriundos das várias estações arqueológicas de S. Cristóvão, Cárquere, Mogueira e Quinta das Trapas. O rico passado arqueológico de toda a região encontra-se minoritariamente representado no museu, pois subsiste em numerosíssimas estações arqueológicas espalhadas por todo o território, umas visitáveis pelo grande público, outras apenas interessando ao especialista, outras, ainda, em curso de investigação, cobrindo uma longa cronologia, que se estende desde a Pré-História até ao séc. XVIII. Uma Ara votiva, da época romana, dedicada a Júpiter, datada de 100a.C-100d.C constituindo o ex-libris do Museu. Epígrafes monumentais e honorificas do séc. XVII, sistemas de moagem primitivos pré-históricos e romanos, um marco da Universidade de Coimbra do séc. XVIII, um prisão de gado cuja origem é do séc. Ia.C.; conjuntos ceramológicos da Pré-história e época romana, moedas diversas desde o séc. III à época moderna e outros materiais arqueológicos em pedra, bronze e ferro, documentos preciosos da História do concelho.
Enquadramento Geográfico
O núcleo Megalítico de S. Cristóvão, situa-se no planalto da Serra de Montemuro com altitudes superiores a 1000 metros, abrangendo as freguesias de Felgueiras e Feirão, concelho de Resende, distrito de Viseu.
Enquadramento Histórico e Arqueológico
O núcleo Megalítico de S. Cristóvão, tal como outros locais do país, insere-se no fenómeno cultural Megalítico, (representado fisicamente por monumentos construídos com pedras ou lajes de, normalmente, grandes dimensões) que em termos europeus é de origem atlântica, terá começado no Neolítico médio com a fixação aos solos dos primeiros agricultores e desaparece progressivamente a partir da 1 ª metade da Idade do Bronze, durando cerca de 3 milénios (IV a.C. a finais do III a.C. / inícios do II a.C.)
A forma mais simples de um monumento Megalítico será a de um menir, “pedra longa fincada verticalmente no solo”. Os cromeleques e alinhamentos, “monumentos compostos de menires expostos em circulo ou em fila, são locais propícios a observações astrais articuladas com práticas religiosas”. (Jorge, Vítor Oliveira, 1982)
O núcleo megalítico de S. Cristóvão conta com dois exemplos do que terão sido dois monumentos megalíticos relacionados com a observação dos astros. O recinto megalítico I, o melhor documentado, implantado no amplo anfiteatro natural, segundo Eduardo Jorge, arqueólogo responsável pela equipa de escavação é constituído por cerca de 40 monólitos de granito e define um espaço aproximadamente oval, “com a particularidade de existir uma série de pedras erectas no seu interior”, envoltos por estruturas de contrafortagem, apresentando características que permitiram considerá-lo como 1 cromeleque, com possíveis conotações no domínio da arqueoastronomia (Pré/Proto histórico). O recinto megalítico II, teve uma intervenção arqueológica que permitiu detectar menires, dos quais alguns se destacam pelo seu bom estado de conservação.
De cariz funerário, “as antas ou dólmens são monumentos constituídos por uma câmara ladeada por lajes verticais e coberta por uma outra laje, normalmente de grande dimensão designada por: tampa, mesa ou chapéu”.
O dólmen e mamoa 1 de S. Cristóvão constituído por quatro esteios graníticos, um pilar e uma mamoa, faz parte do núcleo Megalítico de S. Cristóvão constituído por nove mamoas. Os dólmens eram recobertos por um “montículo de terra e pedras ou só pedras, que envolvia o túmulo megalítico destacando-se na paisagem e apresentando a configuração de uma calote esférica,” advindo do povo a designação de “Mamoa”. A estrutura e forma das mamoas diferem com o tipo de sepulturas que cobriam, podendo assumir diferentes formas: circular, oval, ovóide, elíptico, rectangular, trapezoidal, em “x”, etc. (Jorge, Vítor Oliveira, 1982)
Enquadramento Geográfico
A freguesia de Cárquere, situa-se no concelho de Resende e distrito de Viseu. Os vestígios arqueológicos de Cárquere distribuem-se pela área de implantação do Mosteiro e zonas limítrofes da freguesia.
Enquadramento Histórico e Arqueológico
Cárquere terá sido território da província Lusitânia, cujo limite norte era precisamente o rio Douro, quando em meados do séc. II a.C., depois de longas e duras conquistas, passou a ser dominada pelos exércitos romanos, “A Durio, lusitania incipit. Turduli veteres, Paesuri, flumen, vagia, oppidum talabriga, oppidum et flumen Aeminim, oppida conimbriga, collipo, Eburobrittium.” ) (PLINIO, IV, 21)
Esta região terá sido habitada pelos Paesuri, um povo que aparece mencionado na inscrição CIL II 760, encontrada na ponte de Alcântara, que nos identifica onze civitates romanas no centro e norte de Portugal. (ALARCÃO,1988: p.18 e 24).
Considerando que os Paesuri habitaram Cárquere, existem grandes probabilidades desta ter sido uma civitas (unidade político-administrativa romana), que tal como as outras civitas, deveria ter uma capital e outros aglomerados urbanos e rurais secundários, dependentes dela.
Desde os finais do século XIX têm sido inúmeras as referências ao aparecimento de grande número de materiais arqueológicos, reforçado pelo projecto de estudo sobre a ocupação romana de Sta. Maria de Cárquere, denominado ESTACA (estação arqueológica de Cárquere) que se desenvolveu em 1998 e que permitiu a descoberta de ocupações arqueológicas que variam, cronologicamente, dos finais do século I a V ( início da Era Cristã, com maior relevo para a ocupação romana.) e se prolongam aos séculos XV e XVIII ( Época Moderna).
Do conjunto de materiais, destacaram-se as lápides funerárias epigrafadas de granito, secções de fustes de colunas, bases e capitéis em granito, fragmentos de mós manuais, cerâmicas comuns, cerâmicas finas, numismas, e outros vestígios superficiais sem quaisquer contextos.
Enquadramento Geográfico
A estação arqueológica da Mogueira situa-se numa colina escarpada, sobranceira ao Douro, na freguesia de São Martinho de Mouros, concelho de Resende, distrito de Viseu.
Enquadramento Histórico e Arqueológico
A estação arqueológica da Mogueira terá começado por ser um típico povoado castrejo, semelhante a muitos outros existentes no Norte e Centro de Portugal, característico da Idade do Ferro, com eventual início de ocupação ainda nos finais da Idade do Bronze (Segunda metade do I.º Milénio a.C.).
Advém-lhe importância acrescida pela presença de fortes indícios da existência de um santuário rupestre dessa época, ao qual pertencerão algumas das estruturas visíveis e negativos de construções nos afloramentos graníticos, para além das inscrições rupestres sobejamente referenciadas na bibliografia arqueológica.
O povoado aí existente nos inícios da nossa era foi claramente romanizado, o que se atesta pela presença de materiais e estruturas de época romana. Resta averiguar (o que só será possível com uma intervenção arqueológica rigorosa) se a ocupação romana se cingiu à utilização de sítio como povoado, ou se já então se assistiu à construção de um novo recinto fortificado.
Está ainda atestada uma extensa ocupação e transformação do local nos séculos XI / XII, no quadro da chamada “Reconquista Cristã”, com a construção do Castelo de São Martinho, que ganhou lugar de relevo na historiografia que se debruça sobre essa época pela referência histórica à sua conquista por Fernando, o Magno, em 1057, no quadro das ofensivas levadas a cabo por este monarca, as quais passaram pela integração plena do vale do Douro nos territórios conquistados e que culminaram com o avanço da linha de fronteira muçulmano – cristã até ao vale do Mondego, cerca de 7 anos depois (conquista de Coimbra, 1064).
A fortaleza medieval aqui construída passou a constituir o “castelo cabeça-de-terra” ( do que são aprova a esmagadora maioria das estruturas visíveis, incluindo muralha românica, negativos da torre de menagem, caminho de ronda, cerca, cisterna, fosso e muitas das estruturas visíveis à superfície). de uma nova circunscrição administrativa, a terra de São Martinho, a qual, juntamente com a terra de Aregos, viria a estar na génese da formação do núcleo central daquilo que hoje constitui o concelho de Resende.
Enquadramento Geográfico
Os vestígios arqueológicos da Quinta das Trapas situam-se num terreno da Quinta das Trapas, junto do lugar de Minhães, na freguesia de Resende
Enquadramento Histórico e Arqueológico
A Estação Arqueológica da Quinta das Trapas, terá sido segundo Lino Tavares Dias, uma “Necrópole tardo-romana e moçarabe.”
Em 1991, aquando do desaterro para a construção de uma casa na Quinta das Trapas, encontrou-se alguns túmulos e ossos de um esqueleto humano. Depois de se ter realizado escavações, pensa-se estar perante uma “sepultura do período tardo-romano” (por volta do séc. V); outra do “pré-românico “(moçárabe – séc. VIII a X); uma outra talvez “tardo-romana”, pois a sua datação precisa, verificou-se um pouco difícil, devido ao seu estado de destruição, esta sepultura integrava uma capa de mármore azul que terá sido destruída pela escavadora.
Destas escavações, recolheu-se material de enchimento (tégulas, ímbrex romano) e alguns muretes.
Devido à existência de poucas estações arqueológicas do período medieval pré-românico, que documentam esse período ainda pouco conhecido. Lino Tavares Dias, considerou esta estação arqueológica como « uma das raras necrópoles dessa época devendo por isso ficar “in situ”
Compreende um conjunto de estelas funerárias, da época romana, datadas do séc. I e II, epigrafadas, e com motivos esculturais e vegetalista.
“Ritual de morte, ritual de vida, Indígenas e colonos itálicos lavraram perenemente na pedra o sinal duma coexistência exemplar” (Encarnação, 1989).
Até finais do séc. III, a incineração era o rito normal de enterramento na Lusitânia, cujo limite norte era precisamente o rio Douro: “A Durio, lusitania incipit… ” (Plinio IV).
As cinzas eram metidas em caixas de pedra, onde se lavrava frequentemente uma inscrição, ou eram colocadas numa cova, assinalando-se o local com uma lápide. Só no séc. IV terá surgido o rito da inumação (acto de enterrar os mortos).
Cárquere, possui cerca de uma centena de pedras tumulares, distribuídas por vários Museus Nacionais, (nomeadamente Museu Nacional de Arqueologia e Museu de Lamego) e outros Museus, tais como: Museu da Sociedade Martins Sarmento, Museu de Etnologia e História do Porto e o Museu Municipal de Resende. Outras estelas, integram colecções particulares. Existem algumas dúvidas quanto à índole destas sepulturas, se de incineração ou inumação. Leite de Vasconcelos dá noticia, pelos dados que colheu, de uma sepultura de incineração (Vasconcelos, 1913) e o mesmo refere Vergílio Correia que visitou o local aquando da abertura da estrada e da avenida e no momento em que tais trabalhos puseram a descoberto duas lápides funerárias. Sob estas os restos cremados de dois corpos e nas imediações era ainda visível o local próprio destinado à cremação: ustrinum (Correia, 1972).
Estas estelas são epigrafadas, muitas ornadas com motivos esculturais, algumas têm esculturas muito toscas, talvez referidas às pessoas dos defuntos e outras têm motivos vegetalistas. Os ornatos mais frequentes são ramos de palma (muitas vezes terminados em tridente) e apenas tridentes. O significado da palmeira prende-se com a crença na imortalidade das almas e o tridente é alusão possível a Neptuno e crença da passagem das almas pelas águas dos rios ou dos mares, onde Neptuno era senhor e Caronte o barqueiro mitológico. Leite de Vasconcelos chamou-lhes uma “especialidade regional” (Vasconcelos, 1913). Inês Vaz partilha da mesma opinião, pois refere-se a “estela tipo Cárquere” regionalizando. (Vaz, 1996)
No âmbito cronológico, as lápides funerárias de Cárquere reportam-se maioritariamente ao séc. II, devido ao predomínio de estelas com dedicatória aos deuses Manes e pelas características paleográficas.
As inscrições das sepulturas romanas iniciavam-se frequentemente pela fórmula D. M. S. ou D(is) M(anibus) S(acrum) o que significava, consagrado aos Deus Manes. Manes eram divindades privadas ou domésticas que correspondiam aos antepassados da família do falecido, pois os romanos entendiam que, com a morte, os falecidos da família começavam a fazer parte da esfera divina: dos Deuses Manes. Seguia-se o nome, a filiação e a idade do defunto e, frequentemente o nome da pessoa que mandou erigir o monumento. Por fim, a inscrição terminava quase sempre com S. T. T. L. (S)it (T)ibi (T)erra ( L)evis), que se traduz em : a terra te seja leve. Algumas inscrições terminavam D. R. Q. T. S. T. T. L. (D) ic (R)ogo (Q)ui (T)ransis: (S)it (T)ibi (T)erra (L)evis, que quer dizer, Peço-te, a ti que passas, que digas: a terra te seja leve.
Ara é um monumento votivo constituído por capitel (trabalhado e com fóculo), fuste e base, cuja inscrição vem no fuste. Habitualmente seguem um esquema constituído por nome da divindade acompanhado de S(acrum), consagrado; identificação do dedicante; o motivo da dedicatória (ex voto, ex iussu, pro salutem); fórmula final consacratória: A(nimo) L(ibens)V(otum) S(olvit); A(nimo) L(libens) P(osuit); V(otum) S(olvit) L(ibens) M(érito) ou equivalente. (Encarnação, 1997)
Este monumento consiste numa construção de pequena dimensão que na Antiguidade, encontrava-se possivelmente no local do espaço sagrado, ao ar livre, onde seriam depositadas as oferendas. Dedicadas normalmente a Júpiter ou a deuses menores, a partir do século de Augusto passam também a ser dedicadas aos Imperadores romanos. Esta Ara, conforme se pode ler nas inscrições, foi dedicada a I.O.M., ou seja, Iovi Optimo Maximo-Jupiter, Deus Supremo. Podem ver-se nas inscrições as iniciais V e P – V(otum) P(osuit), dedicou o voto; possivelmente as iniciais e parte do nome de quem dedicou o voto e mandou erigir esta ara. A base da ara está partida, podendo por isso, a inscrição não estar completa. Há quem veja na parte que lhe falta, a possibilidade de estar a identificação do conjunto de soldados que dedicaram o voto. O facto desta inscrição ter a palavra CASTELLA, tem levantado a hipótese a alguns historiadores, de se tratar de um documento importante para confirmar que Cárquere teria sido uma “civitas”, ou seja, a capital de uma grande circunscrição romana e esta ara ter sido dedicada a Júpiter por “CASTELLA”.
Em Portugal estão apenas classificadas setenta aras dedicadas directamente a Júpiter. Resende, conta com duas.
Devido à quantidade de testemunhos epigráficos dedicados a Júpiter (Deus Supremo), presume-se que este seria o culto mais popular dos Romanos e que a sua difusão, se deve aos exércitos romanos.
Segundo Jorge Alarcão, nas províncias ocidentais do Império Romano e nas zonas militarizadas a Norte do Douro, são muito frequentes as aras dedicadas a Júpiter Óptimo Máximo e quando as inscrições, não indicam o motivo da dedicação, trata-se de uma manifestação de fidelidade a Roma, através da invocação do seu Deus maior, apelando para que continue a proteger o imperador e o império.
Em 1759, o Marquês de Pombal expulsa de Portugal os Jesuítas e por doação régia do rei D. José, a Universidade de Coimbra tomou posse em 1775 de todos os bens e direitos do Mosteiro de Santa Maria de Cárquere ( rendas, propriedades, cartório, etc ). Com receio de perder direitos ou de ser prejudicada nos seus bens, colocou a sua marca em todos os bens e direitos herdados. Nessa marca estava escrito a primeira letra e as duas últimas da palavra Universidade, apesar de não se verificar uniformidade quanto à disposição gráfica.
Estes marcos encontram-se dispersos pelos montes da redondeza, ou apenas a marca da universidade lavrada nas fragas da montanha, em muros, arcos e padieiras e em algumas casas.
O Mosteiro tinha propriedades em alguns concelhos: Aregos, S. Martinho de Mouros, Resende, Paiva, Cinfães, Sanfins, Ferreiros, Penafiel, Barcelos, Baião e Mesão Frio; nas Comarcas de Lamego, Guarda, Pinhel e Viseu e em diversas freguesias, tais como: S. Miguel de Oliveira, Caria, Santa Cruz de Lumiares, Godim, S. Tiago de piães, S. João de Cinfães, Santa Maria de Freigil, S. Salvador de Resende, S. João de Felgueiras, S. Miguel de Anreade, S. Pedro de Gosende, S. Romão de Aregos, S. Paio de Ovadas, S. João de Miomães, Santa Cristina de Ramiles, S. Pedro de Paus, S. Lourenço da Panchorra, Moimenta e Queimadela.
O Mosteiro tinha ainda direito a metade de todas as pesqueiras no concelho de Resende, bem como à água do Rego do boi, que sai do ribeiro Taquinho e tem origem na Lagoa de D. João. Nos limites da Lagoa, existe um marco que a Universidade ali mandou pôr, no sítio onde começa o barroco do Cabouco, para talvez marcar o direito que tinha à água.
Dos sistemas primitivos de moagem: Pedra de mó, almofariz, atafona, azenha, rodízio, maré, vento, água… todos estão associados à palavra moinho e, por sua vez, a diferentes tipologias de moinhos e ainda ligados a formas de energia não poluente – humana, hidráulica e eólica…. Procurando a origem no tempo destes sistemas de moagem encontramos: os almofarizes e mós ou moinhos de vaivém nas culturas do Neolítico e Calcolítico, as mós rotativas romanas na Era Cristã, as atafonas no período medieval e os moinhos de vento e de água, as azenhas, os de rodízio ou os de maré na actualidade, mas cada dia mais raros de encontrar em função ou mesmo completos.
Os que aparecem com mais frequência no concelho de Resende são: o moinho de rebolo ou de vaivém, as mós manuais rotativas, azenhas e moinhos de rodízio.
As mós ou moinhos de vaivém devem ter sido muito utilizados pelos nossos antepassados proto-históricos, devido à grande frequência com que aparecem nos Castros, por vezes misturados com mós redondas. Este sistema de moagem terá sido utilizado pelos nossos antepassados lusitanos para transformar as bolotas em farinha. Consistia num bloco fixo inferior, o dormente, chato e côncavo, e numa pedra móvel, convexa, que moía e esmagava os grãos com um movimento oscilatório e semi-rotativo conbinado. Muitas vezes a pedra movente era deslocada para trás e para a frente e por vezes inclinada para um dos lados. A pessoa que moía ajoelhava-se do lado mais alto da pedra exercendo mais força sobre a pedra movente e colocava um recipiente para juntar a farinha. Actualmente, este processo de farinação ainda pode ser observado junto de povos primitivos actuais, de acordo com os seus hábitos culturais.
A Segundo Jorge Dias a mó ou moinho manual terá sido divulgado na Península Ibérica em grande escala, a partir da sua conquista e colonização, pelos exércitos romanos. Nelson Borges reforça a ideia de divulgação romana deste sistema de moagem, pois “os soldados romanos em campanha moíam o cereal de que necessitavam para marchas curtas, pois para longas expedições tinham de levar consigo os utensilios de moagem.” O moinho rotativo aparece evolutivamente da aplicação do movimento de rotação à pedra móvel que consequentemente passou a ser de formato circular. São constituídos por: duas pedras cilindriformes sobrepostas: o pé e o pouso (que permanece imóvel) e sobre o qual gira a andadeira, movida manualmente através de um punho ou tirante, e vazada no centro, o olho, pelo qual é inserido o cereal com vista à sua trituração entre as faces inferior da andadeira e superior do pouso. Essas mós continuam em uso em agumas regiões do País, sobretudo no Algarve, utilizadas para preparar a farinha para as papas de milho.
Além das funções de artefacto técnico, de transformação do cereal em farinha, os sistemas de moagem desempenham outras funções que vão para além das de sobrevivência física e material mas de ordem mais simbólica e espiritual. O pensamento de Mircea Eliade, vai ao encontro da reutilização de elementos de mós, nomeadamente ao nível dos monumentos megalíticos.
É comum identificar-se materiais arqueológicos (votivos ou funcionais) com vestígios de reutilização, nomeadamente de moinhos (elementos de mós: dormentes e moventes), em sepulturas megalíticas que se encontram frequentemente tanto por entre os elementos líticos das mamoas, como servindo de calços de esteios, como junto aos depósitos funerários. Em Resende temos exemplos concretos de fragmentos de mós encontrados durante trabalhos de escavação arqueológica no núcleo megalítico de S. Cristóvão, podendo tratar-se de uma manifestação ritual, de ordem intencional e religiosa.